Acabei de decidir. Vou partir, deixar-te para trás. Esquecer-te. Abandonar-te. Sim, vou abandonar-te à tua sorte e partir. Partir deste amor que me consome e que não consigo esquecer nem ultrapassar. Um amor que já não serve. Que acabou já e apenas eu julguei possível reaver. E senti-o de uma forma tão real.
Apenas receio continuar a amar-te por toda a minha vida e o meu coração bater por ti e pela vida que julguei possível termos um dia. O meu coração insiste em gritar o teu nome como se fosse possível voltar atrás no tempo e reviver tudo, como se nem um minuto tivesse passado.
Fizeste-me experimentar um amor como nunca havia sentido antes. Depois de ti, mais ninguém. Nunca mais experimentei nada assim. Julguei amar outro alguém, mas amor é o que fica, quem fica. E tu ficas sempre. É um amor grande, grandioso demais para ser vivido aqui e, por isso, parto. Parto sem destino, parto como se do planeta fizesse parte o infinito e tu fosses uma estrela que deixa de brilhar.
Deixo-te. Deixo-te a este mundo que tem sido tão ingrato com o meu desaustinado coração, que apenas se preencheu por completo nos momentos em que estiveste presente na minha vida. Nada me resta. O meu peito está vazio, vazio, vazio. A minha respiração é cada vez mais fraca e dentro de mim um grito mudo tenta soltar-se, tenta soltar-te.
Tenho de deixar-te ir, mais uma vez, deixar-te saír de mim para sempre. Não consigo mais suportar-me dentro desta dor pela tua ausência, desta angústia pelo facto de te querer tanto.
Tu mudaste, mas eu sei, continuo a acreditar que não mudaste. Quero sempre, a cada dia, acreditar que tu persistes em ser aquela alma humana, doce, carente, cheia de amor, de sonhos, de promessas por concretizar. E tu vais conseguir. Tu vais ser feliz, ter a tua casa, a tua fiel mulher e os teus tão ansiados filhos, que pretendes criar como parte de ti, para eliminares os erros que cometeram contigo, para te sentires completo. Tu vais. Mas eu não vou estar ao teu lado nesse percurso. E não suporto essa ideia. Apesar de estar disposta a largar-te. Por amor.
É como se tivessemos tido um relacionamento que falhou e terminou há minutos, há segundos. Havia muito tempo que não sentia tamanha dor. E não pensei ser possível voltar a ter esta dor por ti. Não por ti. Talvez por outro. Mas por ti, não. É cruel demais. Não faz sentido. Foste o amor da minha vida, que se cruzou comigo por apenas breves instantes, num toque apenas e que não ficou. E é como se, sem ti, nada fizesse sentido. É em ti que penso se estou à beira mar, se estou em casa, no carro, onde quer que vá. É assim desde que te conheci. Nada mudou. Vejo, até, que se intensificou com o passar do tempo e não admito que a vida tenha sido tão malvada, tão madrasta comigo que tivesse o desplante de me retirar o meu maior sonho, de ter arrancado de mim o meu amor, o único alguém que preencheu e que senti confiança para amar, sem questionar, em toda a plenitude que o amor pode atingir.
Deixo-te ir, com a diferença que agora não estás comigo. E eu não aguento mais. Não consigo voltar a amar. Tenho-te a balançar diariamente dentro da minha cabeça. Não dá mais.
Tenho de partir. Estou pronta para, de novo, seguir o meu caminho por minha conta, sozinha. Olho-te de longe, certamente olharei antes de partir e verei o teu olhar triste de quem se recompõe de um desgosto, de uma frustração de uma relação que não deu certo. Um olhar que busca o amor e alguma coisa superior, alguma coisa brilhante, espectacular. Mas prestes está a surgir-te a felicidade e a tua plenitude.
Serás um ser humano completo e eu serei uma memória, ou talvez nem isso. Faço parte do teu passado que já esqueceste e tu continuas no meu presente para ficar. Não sei quando ou se voltarei um dia. Mas agora parto. Parte do meu coração, também, para que não tenha de pensar em ti onde quer que vá. Pelo menos faz isso por mim.